No final do século XVII na Capitania do Ceará Grande, Província de Pernambuco, havia uma única Diocese. Com a ocupação do interior, segundo Araújo (1974), em 1681 já se cogitava a criação de um Curato na Ribeira do Acaraú, com o fim de catequizar os indígenas e dar assistência aos primeiros colonizadores que começavam a ocupar essa vasta região. A densidade demográfica não era das maiores e ainda não existiam aglomerados urbanos, mas somente fazendas e sítios, habitados por brancos, negros, índios e mestiços, os quais eram visitados periodicamente por padres e missionários, que cruzavam esses sertões carregando altares móveis, “desobrigando almas”, ou seja, ministrando os sacramentos.
Pe. João de Matos Monteiro, natural da cidade de Lisboa-Portugal, conhecido popularmente pelo nome hipocorístico de Pe. Matinhos, foi dos primeiros missionários nesta região. Ao chegar ao Vale do Acaraú, também chamado de Acaracú, em 1716, encontra-o povoado por muitos indígenas e, no entanto, com poucos colonizadores, estando muitos desses vivendo maritalmente com índias sem estarem casados. Segundo Araújo (1974), “apesar de seu temperamento autoritário e desabusado”, conseguiu a simpatia e amizade destes, de onde brotou a idéia de criar o Curato do Acaraú.
Oficialmente, em 28 de março de 1722 foi criado o Curato de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira do Acaraú, tendo Pe. Matinhos como primeiro Cura (Vigário), o qual pastoreava uma extensa região que abrangia o“território compreendente ao interior cearense limitado ao litoral que vai da foz do rio Coreaú à do Mundaú, servindo de fronteira, a leste e ao sul, as terras do Piauí” (ARAÚJO, 2000, p. 37), onde existiam apenas as Capela de Nossa Senhora da Assunção da Aldeia da Ibiapaba (Viçosa) e Capela de Nossa Senhora da Conceição dos Tremembés (Almofala). Sendo fundador do Curato, Pe. Matinhos passou por muitas adversidades. Em missão quase perde a vida atravessando rios caudalosos a nado e escapando da violência de índios. Construiu mais duas Capelas no território do Curato, a de Nossa Senhora da Conceição de São José (Patriarca) e a de Nossa Senhora do Livramento do Pará (Granja), deixando ainda em construção as Capelas de Santo Antonio do Ibuaçú e Santo Antonio do Olho d´água (Coreaú), além dos donativos para a edificação da Capela de Nossa Senhora do Rosário (Groaíras).
No desenvolver de sua atividade paroquial, Pe. Matinhos envolveu-se em conflitos com diversos moradores, inclusive com os Padres Jesuítas da Missão da Serra da Ibiapaba, numa polêmica que chegou até as mais altas instância do Governo Imperial Português. Por não aceitar o concubinato de uma índia com o Coronel Sebastião de Sá , conseguiu seu desafeto, sendo por ele perseguido.
Apesar dos conflitos, o clérigo conseguiu, segundo Araújo (2000), reformar moralmente a Freguesia, estabelecendo seus moradores em residências fixas, favorecendo a Fazenda Real, o Império Português. O Curato recebia periodicamente vistoria dos chamados Visitadores Gerais, que eram representantes do Bispado de Pernambuco, os quais inspecionavam as atividades paroquiais, logo em seguida apresentando um relatório ao poder eclesiástico e civil sobre a situação da região, ficando o Governo e a Igreja informados dos acontecimentos locais.
No dia 24 de outubro de 1725 começou a ser escrito o primeiro livro de assentos de batismos e casamentos do Curato do Acaraú. O livro é dividido em duas partes, sendo os batismos da folha 1 a 99 e os casamentos da página 100 a seguintes. De janeiro de 1727 a janeiro de 1730 não foi registrado nenhum casamento, em função disso são vistas diversas páginas em branco.
Em dezembro de 1735 o Curato recebe a visita do Pe. Félix Machado Freire, Visitador Geral dos Sertões do Norte. Após a visita, Pe. Felix deixou um longo provimento determinando ao Cura fixar-se no meio do território do Curato, ficando este estabelecido entre as Capelas de Nossa Senhora da Conceição de São José e Nossa Senhora do Rosário, elegendo a última como Matriz enquanto não fosse encontrada nova sede para o Curato, onde seria construída a Matriz definitiva.
Em junho de 1742 o Pe. Lino Gomes Correia , outro Visitador Geral dos Sertões do Norte, vindo de Pernambuco em visita canônica e depois de passar por diversas comunidades da Capitania do Ceará Grande, pernoitou na Fazenda Caiçara, escolhendo-a como sede do Curato de Nossa Senhora da Conceição do Acaraú, ordenando que lá construíssem uma Igreja Matriz, o que motivou o desenvolvimento do local que posteriormente tornar-se-ia a cidade de Sobral.
Dos motivos atribuídos por Araújo (1974) para a escolha da Fazenda como sede do Curato estava a condição geográfica privilegiada, por estar no meio do seu território, como também a beleza do lugar.
Em junho de 1743 o Pe. Manoel Coelho Choriço assume interinamente o Curato do Acaraú, ficando no cargo até 1744, quando assume o cargo Pe. Antonio Carvalho de Albuquerque que oficialmente estabeleceu a Fazenda Caiçara como sede do Curato, sendo ele o construtor da primeira Capela feita de tijolo, iniciada em 1746, logo após grande seca.
No dia 30 de agosto de 1751, por Provisão do Bispo de Pernambuco Dom Francisco Xavier Aranha, o Curato do Acaraú foi dividido em quatro freguesias: Amontada, Coreaú do Sítio Macaboqueira, São Gonçalo da Serra dos Cocos e Nossa Senhora da Conceição da Caiçara, continuando a última Matriz sede do Curato.
No dia 05 de julho de 1773 a povoação da Caiçara é elevada a Vila, recebendo o título de Vila Distinta e Real de Sobral. A substituição do nome fora motivada por Ordem Real que obrigava na elevação das povoações a Vilas, substituírem as denominadas com topônimos indígenas por nomes de localidades portuguesas.
O título de “distinta” foi atribuído à povoação, porque esta havia sido catequizada por padres seculares, não pertencentes a nenhuma congregação, como os Jesuítas, alvo da aversão de Marquês de Pombal. Além disso, os primeiros povoadores da localidade e regiões ao seu redor eram portugueses e seus descendentes, portanto, não tiveram origem indígena ou “bárbara”, como eram chamados os nativos da região no referido momento histórico.
Texto de Francisco Cleuton da Ponte Portela
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