Pierre Nora, famoso historiador francês, em seus estudos ressaltou a importância dos personagens, símbolos, monumentos e fatos históricos como elementos estruturadores da memória coletiva de cidades e nações. Por meio deles, os indivíduos organizam os fatos históricos, dando origem à história oficial das localidades do nosso planeta. Esses elementos, materiais e imateriais, existem e perpetuam-se na história por meio da memória que está relacionada diretamente com os laços afetivos o que fazem com que as pessoas criem um intenso amor ao local onde vivem, o que a sociologia vai denominar de “sentimento de pertença” e os leigos chamam de “bairrismo”.
Não é estranho ver indivíduos identificarem-se com a bandeira ou o hino do seu país, eles existem com esse intuito. Os brasileiros elegeram como símbolos de sua nação o Cristo Redentor e veneram personagens históricos como Tiradentes, Zumbi dos Palmares, José de Alencar, Machado de Assis ou Juscelino Kubitschek. Muito se fala do jeitinho malandro do carioca, da preguiça do baiano e do humor cearense e isso acaba se incorporando ao folclore nacional, fazendo com que cada indivíduo identifique-se, sinta-se pertencendo ao seu lugar de acordo com as características das pessoas que vivem nele e isso é algo muito forte, não somente no Brasil como no mundo inteiro, em qualquer civilização que possa ter existido.
Ofender símbolos como esses é atingir todo um grupo que identifica-se com eles, é macular tudo aquilo que este considera mais sagrado, é por bem dizer, mexer com a alma de um povo.
Utilizamos essa reflexão para referir-nos a reportagem veiculada pela revista Veja dessa semana intitulada "The United States of Sobral", que destaca a cidade por cultivar hábitos estrangeiros. Casou-nos estranhamento a ausência de polidez ao se referir aos símbolos valorosos para aqueles que residem nesta cidade, ao trato piegas e de deboche àquilo que a população conserva com tanto respeito ao ponto de ser alvo de estudos de uma série de pesquisadores que puseram-se à investigar a sobralidade.
A reportagem, além de desrespeitar toda uma população, força algo que ela mesma não reconhece: jogos de beisebol como algo difuso, jóqueis com calção de futebol e rio Acaraú semelhante a Hudson, ainda que em tempos de globalização possamos concordar que o “American Way of Life” tenha chegado em Sobral assim como em milhares de cidades desse nosso planeta, tendo obviamente que assimilar a língua inglesa que não é necessidade única dos sobralenses mas de qualquer brasileiro, mexicano ou argentino.
O articulista, mesmo escrevendo a uma conceituada revista nacional, além de faltar com respeito a todos os sobralenses, fragilizou seu artigo com afirmações de cunho pessoal. Esquecendo-se de que o profissional da comunicação deve ao menos ser fiel aos fatos reais, faltou-lhe a curiosidade de ao menos consultar os moradores e pesquisas que abordam amplamente o tema, mostrando a pouca relevância de seu artigo que mostrou-se ser apenas uma visão etnocêntrica de um estrangeiro usando da fama da cidade para agredir politicamente sobralenses que se destacam em nível nacional.
A título de correção, o modo de ser sobralense existe e não é algo recente, vinculado a um grupo familiar detentor do poder local. Antes disso, existe toda uma trajetória histórica de construção dos símbolos e mitos, alicerçadas na memória dos nossos antepassados por meio dos valores familiares e religiosos.
Queremos reafirmar com essa nota nosso orgulho de ser sobralense e ressaltar que nossos costumes vão além do estrangeiro e que nossa identidade é única vinda da junção dos povos que aqui viveram e que temos muito orgulho de afirmar que foram nossos antepassados e que usufruímos do conforto que nos é justo porque trabalhamos assim como qualquer brasileiro que toma fondue em outros cantos do nosso país.
Produzido por Cleuton Ponte
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Falou, falou e não disse coisa com coisa.
ResponderExcluirfaltou argumentação no texto.
Não há embasamento algum para sustentar as afirmações do autor contra a matéria da veja.